Uma novidade que está fazendo parte do dia a dia de professores de 10 creches de São Luís é o projeto “Futebol desde pequeninos”, que apoiado pela FIFA Football For Hope, tem levado cidadania para as crianças mediante a realização de práticas de esporte e de lazer.
O trabalho coordenado pelo Instituto Formação, por meio da Incubadora de Esportes e Cidadania, busca com o auxílio dos professores integrar as práticas de esportes e de lazer nas creches em que trabalham, a partir de conceitos como individualidade, coletividade, solidariedade, democratização e respeito à diversidade.
Segundo a coordenação do GT de Educação do Instituto Formação - responsável pela formação dos professores, a ideia é adotar a ludicidade como proposta pedagógica e refletir sobre o tema com os professores também a partir de estudos já consagrados por teóricos como Piaget, Vigotsky e Paulo Freire.
O projeto “Futebol desde pequeninos” utiliza a metodologia três, cuja prática evoca dentro da Educação Infantil o desejo de brincar das crianças aliado ao ato de conviver em grupos mistos, ou seja, meninos e meninas construindo lúdica e coletivamente práticas solidárias, e, o papel dos professores é de fundamental importância para que as crianças aprendam desde cedo não apenas a brincar, mas respeitar o outro, utilizando para isso, por exemplo, um jogo limpo e saudável.
Os diálogos sobre a temática têm auxiliado os professores ainda no sentido de, motivá-los a adotarem cada vez mais a ludicidade nas creches trabalhando esses conceitos da metodologia em três tempos com a perspectiva de que as crianças incorporem gradativamente desde pequenas o que é cidadania.
Uma estrutura metálica fácil de carregar e de montar tem chamado a atenção de centenas de crianças de 10 creches em São Luís. Trata-se da Quadra Móvel Bolação, que sob a coordenação da Incubadora de Esporte e Cidadania do Instituto Formação, tem promovido a disseminação da prática do futebol em três tempos.
A atividade que faz parte do projeto “Bolação nas Creches – Futebol desde pequeninos” é realizada em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (SEMED), consiste em introduzir a metodologia três nas creches das seguintes UEB: Barjonas Lobão, Darcy Ribeiro, Dilson Ramos, Maria Jesus Carvalho, Mario Pereira, Jean Norberto Coelho, Paulo Freire, Primavera, Recanto dos Pássaros e Residencial Paraíso.
Por meio da montagem da Quadra Móvel - que é adaptável aos diversos espaços como o pátio em frente às creches ou até mesmo dentro da sala de aula -, as crianças, na maioria entre 2 e 5 anos, tem acesso à ludicidade e a outras temáticas ligadas à cidadania. Para o GT de Educação do Instituto Formação que é responsável pelo conteúdo pedagógico do projeto, o cuidado não se dá apenas com as crianças, mas passa também, pela qualidade da formação dos professores, diretores e coordenadores pedagógicos das creches. “Com a aplicação da metodologia do futebol em três tempos as crianças brincam e, ao mesmo tempo, aprendem a partir de conteúdos pensados cuidadosamente para a Educação Infantil”, comenta uma das coordenadoras do GT.
Durante quinze dias a quadra permanece montada em uma das creches e, a partir daí, as crianças jogam o futebol da metodologia três, acompanhadas pela equipe de profissionais do projeto bem como dos professores que são capacitados para lhes auxiliarem na execução da metodologia.
O projeto doa ainda a cada uma das creches, um kit de materiais contendo, 20 coletes, 03 bolas, 03 banners, 20 cópias das planilhas contendo a metodologia e 10 camisas aos professores participantes, com o objetivo de incentivar a prática esportiva entre os pequeninos que vê com curiosidade cada passo dessa novidade.
Segundo a coordenadora da Incubadora de Esporte e Cidadania, Diane Sousa, com esse movimento é possível chamar a atenção da escola sobre a importância de espaços para brincadeiras e jogos educativos das crianças. “Quando levamos a quadra queremos não somente compartilhar a metodologia três com os professores e as crianças, queremos também que eles se apropriem dela e passem a adotá-la na rotina permanente da creche”, pontua Diane.
O Formação a cada nova ação vai aprimorando as metodologias que usa nos processos educativos e vai desenvolvendo novas.
Abaixo segue uma lista de algumas dessas metodologias desenvolvidas no âmbito do trabalho da Incubadora de Esporte e Cidadania.
METODOLOGIA | MODALIDADE | DESCRICAO |
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Futebol |
Aqui jogamos futebol com 3 tempos de jogo, não temos juiz e sim um mediador, as regras são feitas pelos próprios participantes, e meninas e meninos jogam juntos. Trabalha: gênero, negociação, participação, solidariedade |
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Handebol |
Jogo em 3 tempos, com mediador e regras construídas no primeiro tempo e avaliadas no terceiro tempo. O segundo tempo e o jogo entre meninos e meninas. Trabalha: gênero, negociação, participação, solidariedade |
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Handebol |
Existe uma variação deste esporte que trabalha o handebol sentado e em pé. Então pense em uma girafa e em um caranguejo. Trabalha: inclusão, gênero, solidariedade |
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Vôlei |
Os jogadores irão testar suas próprias habilidades, só que desta vez jogando sentado. Trabalha: inclusão, gênero, solidariedade |
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Futebol |
Já pensou que quatro pernas grudadas também podem jogar futebol? Trabalha: inclusão, gênero, solidariedade |
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Badminton |
Que tipo de musica você gosta? Passos básicos do badminton podem ser aprendidos dançando ao som da sua musica favorita. Trabalha: gênero, solidariedade , criatividade |
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Xadrez |
Que tal as pessoas serem as pecas? Vamos envolver mais pessoas no jogo? Confeccionar nossos personagens(rei, rainha, torre, cavalo ...) Trabalha: estratégia, trabalho coletivo, criatividade, inclusão, gênero... |
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Slackline |
Uma simples fita e muita diversão pelo caminho. Que tal aprender a como se equilibrar e ao mesmo tempo contar com o apoio do colega? Trabalha: equilíbrio, cooperação, gênero.. |
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Futebol |
Com uma bola que possui um sino dentro os participantes estarão com os olhos vendados e sendo orientados pelos colegas de equipe. Apenas com audição. Trabalha: sentidos, cooperação, inclusão.. |
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Corrida |
Aqui metade do circuito incluirá pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência. Colocando muitos desafios pelo caminho. Trabalha: sentidos, inclusão, cooperação... |
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Basquete |
Utilizaremos bambolê e a cesta será substituída por esse material. No lugar da tabela teremos uma pessoa que orientara todo jogo. Trabalha: cooperação, gênero, inclusão... |
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Beisebol |
Brincadeira que introduz o beisebol = com dois tacos, uma bola e 2 litros seis pessoas jogam em duas equipes de 3. São muitas as variações. Trabalha: criatividade, gênero, estratégia.... |
Em 2014, com apoio da Vale, estruturamos 5 Núcleos na Região do Gapara, área Itaqui Bacanga, próxima da Universidade Federal do Maranhão, da Ferrovia Carajás e do Porto do Itaqui.
A metodologia do esporte educativo adotada nos cinco Núcleos (4 comunidades e 1 escola) partiu das referências construídas durante a operacionalização do Projeto Escola de Mediação em Esportes Educativos, que focou o conceito de Mediação em Esportes3, em diferentes modalidades de esporte.
O projeto está pautado no respeito aos preceitos legais do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e das demais leis brasileiras que tratam desse referido conteúdo.
Usando a metodologia não se trabalha com as figuras do “treinador” e do “árbitro”, mas com educadores e jovens mediadores, que assumem papel de mobilização de crianças, adolescentes e jovens para a prática educativa de esportes. Evidentemente, no trabalho por dentro da escola defendemos que os educadores sejam os professores formados em Educação Física.
Ao mesmo tempo em que se deseja difundir as práticas do esporte educativo e da metodologia do esporte em 3 tempos, com a introdução do MEDIADOR - como mobilizador e orientador desse processo, trabalhamos também para que sejam disseminadas metodologias do esporte educativo e inclusivo, em grande abrangência/escala, de modo a garantir o esporte como direito de todos e todas e não apenas como mecanismo de geração de renda e de comercialização de produtos por parte de grandes times e corporações.
Ao longo do século XX adotou-se (em eventos e por organismos internacionais) a prática de posicionar-se, declarar, escrever, agendar sobre diferentes conteúdos, como forma de se tentar construir um mundo melhor, pós – guerra, mesmo que por dentro de uma sociedade endemicamente destinada à exclusão, como a capitalista.
O início desse tipo de manifestação foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos – pelas Nações Unidas, em 1948 e prosseguiu em vários outros eventos e momentos, como o Manifesto 2000 - por uma Cultura de Paz e Não – Violência, do Grupo de Prêmios Nobel, em 1998.
Na área da Educação Física, a Carta Internacional de Educação Física e Esporte, escrita pela Unesco, em Paris, 1978 foi um marco importante. Seguiu-se, a Carta dos Direitos da Criança no Esporte, Panathlon, Avignone, em 1995.
No Brasil identificamos na área da Educação Física e Esporte duas manifestações importantes:
- Carta de Belo Horizonte, 1984, assinada por intelectuais da Educação Física.
- Carta Brasileira de Esporte Educacional assinada nos Jogos Escolares Brasileiros, em 1989, ressaltando a importância do esporte ter uma concepção mais educativa.
Em 1999, quando todas as áreas eram conclamadas a se manifestarem e irradiarem suas reflexões na entrada do novo século, a área de Educação Física realizou três eventos com esse objetivo:
- World Summit on Physical Education (Berlim) – que lançou a Agenda Berlim estabelecendo a necessidade de uma Educação Física de Qualidade.
- III Encontro de Ministros e Responsáveis pelo Esporte e Educação Física, em Punta del Este, que divulgou documento com diretrizes para políticas públicas na área.
- Congresso Mundial FIEP, em Foz do Iguaçu, que lançou o Manifesto Mundial FIEP de Educação Física 2000, com a defesa do direito de todos à Educação Física, articulando essa área a outras como Educação, Esporte, Cultura, Ciência, Saúde, Lazer e Turismo e interligando esse conteúdo a outros transversais, cuja superação eram importantes para uma sociedade mais humanizada, tais como: exclusão social, pessoas com deficiências, meio ambiente e cultura da paz. Esse documento sintetiza as defesas até então no âmbito da Educação Física e dos Esportes.
O conceito de esporte educativo aparece portanto, desde a Carta Internacional da Educação Física, elaborada pela UNESCO. Tinha como objetivo renovar os conceitos que eram adotados antes e durante a Guerra Fria, em que existia uma ampla prática pela competição e era utilizado muito mais para a formação de “exércitos” do que pelo lazer e como um dos conteúdos formadores do “homem integral”.
Desde então, o esporte educativo é tanto praticado em sistemas de educação formal como no não formal, adaptando regras, estrutura, espaços, materiais e formas de se praticar de acordo com as regras construídas, as condições sociais e pessoais.
No Brasil, além do debate promovido a partir dos Jogos Escolares Brasileiros de 1985, algumas leis importantes foram aprovadas, tais como a Lei n° 8672/1993 e o Decreto n° 981/1993, que reforçam o conceito de Esporte Educacional. Em 1995, com a criação do Ministério Extraordinário do Esporte e do Instituto Nacional do Desenvolvimento do Esporte foi elaborado um primeiro documento com os princípios fundamentais do esporte educacional, que são:
Atualmente essas discussões se mantém em conferências que são realizadas no Brasil, também na área dos esportes. A primeira aconteceu em 2004 e desde então três conferências nacionais foram realizadas.
O amadurecimento da democracia brasileira por meio da participação direta possibilitou que o Brasil adotasse este modelo de conferências para construção de políticas públicas reconhecido internacionalmente por promover o diálogo entre governos e sociedade civil.
De 1941 a 2014 foram realizadas 143 conferências nacionais, das quais 102 ocorreram entre 2003 e 2014, abrangendo 40 áreas setoriais em níveis municipal, regional, estadual e nacional e mobilizando cerca de oito milhões de pessoas no debate de propostas para as políticas públicas. Para o ano de 2015 estão previstas mais 15 conferências nacionais, em diferentes áreas, com uma estimativa de participação de mais de dois milhões de pessoas, desde as etapas municipais à nacional.
Esses princípios estão presentes nas ações que concebemos e como em todas as áreas que atuamos sempre articulamos os conteúdos dos projetos diversos com os eixos: cidadania, desenvolvimento e democratização. Nesse sentido, trabalhamos articuladamente os conceitos esporte e desenvolvimento incluindo pessoas e estimulando-as a participarem ativamente como cidadãs em todos os contextos que estiverem inseridas.
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